CASAL DO FOZ A TERCEIRA LENDA

Sem duvida, o Brasil é o País do futuro. Há apenas, de não se adiar esse futuro.

domingo, 30 de maio de 2010

AMOR NA GUERRA

CASA DO PESSOAL DA DIAMANG

Verificavam-se bastantes dias de folga, a servir para passeios e algumas horas para ir cuidando da correspondência com as Madrinhas de Guerra e também de familiares e amigos.
Entretanto Onofre estava a tornar-se companhia habitual do Soeiro, com quem ia mantendo uma boa relação, em parte devido ao acordo, dos objectivos de coleccionar fotos de artistas do cinema e do "music hall" mundial.
Visitas à casa do Pessoal da Diamang e idas à respectiva sala de cinema, também eram frequentes, sendo tempo de recordar que aquela estrutura era a única existente na cidade, para todos os actos e encontros públicos.
Era ali que as actividades de passatempos tinham lugar, desde jantares de convívio e outros, cujo denominador comum era a obrigatoriedade de terem de ser "requisitados" com antecedência, assim como jogos de salão.
Os militares estavam equiparados a funcionários da Companhia Damang, visto serem continentais e brancos.
Já que se evoca este assunto, torna-se interessante frisar que, depois das nove horas da noite, podia consumir-se, por exemplo cervejas.
Porém a partir daí era interdito qualquer pagamento, mesmo ao corpo militar. Ficava um "tickey" rubricado a atestar o consumo, até que um dia se chegasse a horas de fazer a liquidação.
Cidade do Dundo

Muitos militares, incluindo Onofre, chegaram a andar meses a consumir sem poderem efectuar o respectivo pagamento.
Para os funcionários da Companhia, tudo se simplificava, porque no fim de cada mês, aparecia o desconto no ordenado.
Para a força militar, meu Deus!...
É de adivinhar, no fim da comissão, terão ficado bastantes contas por liquidar, haveria bons rapazes que, só consumiriam quando chegava a hora de deixar o quadradinho de papel a atestar o acto!
Assim no fim do serviço na zona, era o tempo de apagar dívidas. Voltava-se á velha formula: "Com rapazes nem o diabo que nada com eles".
Militar, vestido, à civil na cidade do Dundo

A escala de serviço era elaborada, como sempre, por um cabo escriturário, No esquadrão, umas vezes iniciava a tarefa, logicamente, pelos números mais altos.
De seguida porque, naturalmente, "comia formigas", desatava a começar tudo nos de menos valores na classificação.
Possuindo Onofre uma boa posição em ambas, só novamente, a quinze de Agosto entrou de serviço. Tratou-se da vigilância ao aeroporto da Portugália.
A dezassete do mesmo mês, a escala nomeava-o para vigia num posto de controlo na fronteira com o Congo.
No Domingo dezoito, como era já permitido, andar trajado civilmente, houve deambulação pela cidade e à noite, com outros colegas, assistiu a uma sessão de cinema, tratava-se do filme "Leito de Espinhos".
Entre vários acontecimentos, passaram-se alguns deveras interessantes. Num dia de Domingo, foram abertas as comportas do rio Luachimo, muitos militares assistiam.
O próprio comandante do esquadrão, Capitão Ferrand de Almeida, com a sua espingarda Mauser, mostrou uma pontaria inaudita, aparecendo a descoberto um crocodilo, de imediato o matou com um tiro certeiro.
Sabendo-se que aquele animal é coberto de uma tal couraça de escamas, que só perfurado por bala, em determinado ponto da cabeça é vulnerável, tem de considerar ter-se assistido a um grande feito.
Certamente, para todos os assistentes pertencentes á força armada, uma tal visão teria sido única.
Nos mesmos dias o comandante, reuniu toda a tropa possível, sob a sua supervisão (quem estava de serviço, evidentemente, era intocável) e todos sentados nas pedras que, compunham o terreno das traseiras do improvisado aquartelamento, deu uma palestra a surpreender, pelos seus dotes de oratória.
Versava o problema colonial da Argélia dominada pela França, a que o famoso General De Gaule, como chefe do estado francês, concedera a independência.
A eloquente e única palestra que aquele contingente teve o privilégio de ouvir daquele comandante, frisava ser um mau precedente para todos os países em luta, para manter as suas colónias incluindo Portugal por razões óbvias.
Sem saber em concreto qual missão que lhe era destinada, Onofre passara a executar tarefas de maior significado, incomuns à sua especialidade e até no trabalho da sociedade civil, ainda que se achasse capacitado.
Iniciara-se com vários contornos, mas o mais visível foi a ida ao aviário, a funcionar no sítio designado Cacanda, com a finalidade de trazer sob requisição, os frangos necessários a uma refeição do esquadrão, tarefa que iria fazer parte dos novos serviços que se avizinhavam.

Daniel Costa

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