CASAL DO FOZ A TERCEIRA LENDA

Sem duvida, o Brasil é o País do futuro. Há apenas, de não se adiar esse futuro.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

AMOR NA GUERRA

GABELA - AMBOIM

Chegou o Dia de Páscoa, a catorze de Abril de 1963 e a escala de serviço, apontava a nomeação de Onofre para Cabo de Dia, o que dava como consequência o ficar a exercer um serviço interno ao Esquadrão, provocando a impossíbilidade de saída, facto que deferênciava bem o tipo de trabalho, em quartel de uma cidade, em que tudo podia ser programado, ao invés do exercido em pleno local de intervenção de guerra, onde a ordem podia ser alterada, pelos mais variados imprevistos, causados por alertas, que poderiam surgir a qualquer momento.
De qualqur modo, a estabilidade era uma nova evidência a que todo o pessoal se estava a adaptar, entre o exercício dos mais variados serviços e os dias de folga, em que se podia visitar a cidade, estar no único estabecimento de café existente, ir à sessáo semanal de cinema, ou a jogos de campenatos distritais disputados no A.R.A. - Associação Desportiva do Amboim, à piscina municipal e ao interessante Mercado Municipal.
Ao domingo, uma das opções, era a visita aos "muceques" que se situavam em redor da cidade, sobretudo ao do Aricanga, que dispunha de uma sala de cinema, destinada a autótenes, mas em que os militares, da classe de praças, não menosprezavam assistir à sessão domingueira.
Também se voltara a tornar usual ir dominicalmente à missa, na bonita Catedral da cidade.
Catedral da Gabela - saida da missa

A dezasseis de Abril Onofre, por escala, contituíu um grupo de serviço de patrulha, como sempre, composto por três elementos: Sargento, cabo e soldado raso, montados em Jeep, a tarefa era vigiar tida a cidade, em que se incluíu a Roça dominada por Covil do Perigoso, onde foi oferecido um lanche aos militares, com a inclusão de umas "cucas" fresquinhas que foram divinais, num dia que se apresentava tórido.
Das tropas estacionadas na Gabela, faziam parte núcleos militares, nas vilas de Quibala e Porto Amboim, daí que surgissem também viagens de serviço, normalmente transporte de informações, necessárias a todas as redes operacionais.dos exércitos.
Em vinte de Abril um Jeepão com pequeno grupo de militares, onde ia integrado  Onofre, foi incubido de se deslocar a um desses destacamentos, em Porto Amboim: A operação acabou por se gorar, devido a uma tempestade que passara pela zona, fragilizando ainda mais, uma velha ponte de madeira do caminho, que não aguentou a passagem da viatura.

Atribulada e gorada a viagem a Porto Amboim

A tropa, com o seu próprio esforço, conseguiu retirar o veículo. Mesmo assim a missão ainda seguiu em frente até ao grande colosso da C.A.D.A. onde se almoçou o inefável pacote de ração individual de reserva.
Depois o comandante, um sargento, devido ao dilúvio que por ali tinha passado, verificou nâo haver condições de prosseguir a viagem e optou pelo regresso à base.
Ficou contrariado o grande desejo aventureiro do Onofre, de lhe calhar em sorte uma missão à vila portuária de Porto Amboim, mas mesmo assim, detectou motivos de nota.
A determinada altura, estava-se como que sem orientação. Abordado um nativo, à pergunta:
- Porto Amboim, ainda fica longe?
- Fica sim!...
- Feita a mesma, ao contrário - Porto Amboim fica perto?
- Fica sim!...
A interpelação foi feita a outros transeuntes nativos, sempre com o mesmo resultado.
Ficou logo a certificação, que os indíginas a viver mais afastados dos centros dominados pelos colonos, só sabiam alguns monólogo da língua portuguesa.
Verificou-se o grande desenvolvimento agrícola, que realmente existia na povíncia do Cuanza Sul , pois grande parte do caminho estava bordejado de laranjeiras, que na circunstância e com a colaboração do condutor, a acção dos militares fazia juncar de laranjas o estrado da viatura, que depois transportou para o quartel, tudo executado em andamento.
Anotou-se posteriormente, que as missões seguintes, do Esquadrão áquela vila da beira mar, foram feitas no comboio do Amboim.
Ouvir descrever as peripecias de quem efectuava a viagem era, como que, ouvir um conto de aventuras.
Cabe descrever o elevado tempo gasto, para andar, naquele comboio, cerca de cento e vinte quilómetros de linha, ida e volta. Tinha de andar em volta de uma montanha, por onde passava, ainda próximo dos laranjais.
Dava o tempo necessário, apoveitado nas calmas, para encher o bornal de frutos daquelas árvores e depois de devidamente abastecidos, voltar a tomar o lugar na viatura do caminho de ferro.
Estava-se perante parte do folhetim da vida que se oferecia a quem estacionava em serviço militar na Gabela.
Isto e muito mais, fazia Onofre, oriundo de meios modestos, recordar o título e o conteúdo do livro de Camilo Castelo Branco
- "Riquezas do Pobre e Misérias do Rico"!...

Daniel Costa

1 comentário:

  1. Daniel, mais um interessante episódio deste blog. Voltei à infância quando costumava com a minha babá munida com uma faquinha, sentar-me embaixo das inúmeras árvores laranjeiras de diferentes espécies de um sítio nosso e saboreá-las com sofreguidão.

    Beijos, querido amigo

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