CASAL DO FOZ A TERCEIRA LENDA

Sem duvida, o Brasil é o País do futuro. Há apenas, de não se adiar esse futuro.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

AMOR NA GUERRA

JOGO NA GUERRA

O jogo da sueca, com imensa pena do Onofre passara a outro, o do "abafa", talvez por influência de novos elementos, das várias proveniências, que foram chegando ao Esquadrão.
Chegavam em substituições, normalmente na sequência de castigos, por ser zona de intervenção, a considerada de maior perigosidade.
O novo modelo de jogo tornava-se perigoso, por vezes em cima da banca podiam ser vistas boas somas de Angolares, era como brincar com o dinheiro.
Já não era para "intelectuais", como o Onofre, que se poderia considerar um bom jogador de sueca, visto memorizar as cartas saídas. Pelo menos com trunfos divididos, como se dizia, a dupla formada por ele e o Picão ganhavam sempre.
Outra coisa recorrente durante toda a Comissão, foi reparar-se os frigoríficos serem alimentados a petróleo. Uma torcida acesa provocava o funcionamento do motor, gerando o frio, tal como eram alimentados os candeeiros, a alumiar ainda as casas da maioria das aldeias metropolitanas.
Em zona de mato os indispensáveis serviços eléctricos eram da proveniência de potentes geradores.
Chegados a seis de Março, em mais uma acção levada a cabo por tropas do esquadrão de comando, houve a baixa de um Sargento, havendo ainda a assinalar o ferimento de um soldado.

Cemitério militar de Muxaluando, contruído em 1963 pela tropa do 350
Lápide homageando o Sagenti Kopejka (*) morto em combate, em seis de Março de Março ao serviço do Esquadrão de Comandos e Serviços do Batalhão 350, na Sinagoga du Rua Alexandre Herculaho, em Lisboa. Foi spultado em Muxaluando (foto: Alfredo Gomes Anciães)

Idas a Nambuangongo e à Fazenda Beira Baixa, em conjunto com outras continuavam.
Algumas vezes tendo-se como alimentação, as célebres caixas de ração de reserva, concebidas como uma refeição substancial, o que não se podia negar, por demasiadas vezes utilizadas eram detestadas.
Entre os mais variados serviços de escoltas, por todo o género de picadas, sobretudo dentro do capim, mais alto e a sobrepor a própria viatura,
Em dezanove de Março, mais uma a acompanhar camaradas de regresso, uma outra operação, em que não foi avistado qualquer elemento da insurreição.
Mais uma vez chegara o tempo das grandes tempestades tropicais muito visíveis, por se tornarem frequentes naquela zona Norte de Angola.
Entre os inúmeros casos cita-se o de um dia em que numa escolta a Muxaluando, Onofre e camaradas chegaram ao Tari pela noite dentro, denotando a falta de jantar.
Revelou-se a atenção do comandante Alves Ribeiro, vindo a acompanhar via rádio a penosa progressão da coluna, recebeu os comandados e assistiu ao jantar, mandando distribuir bagaceiras e cafés a todos os que viveram a odisseia.
A demora aconteceu mais porque, uma camioneta GMC, entretanto habitual para aguentar eventual impacto de minas, encabeçara a coluna e ao passar por uma subida bastante inclinada. Face ao terreno empapado, da chuva persistente dificultava extremamente a progressão.
A vinte e cinco ainda foi feita uma escolta de viaturas civis, pela esquadra da Breda e elementos e do respectivo pelotão a que pertencia o cabo Onofre, à Fazenda Mucondo.
A vinte e sete de Março eis que chegou, finalmente uma companhia a render o Esquadrão do Lifune Tari.
Como o dia se apresentava ainda chuvoso, por aquelas verdadeiras veredas, o serviço numa extensão a rondar os trinta quilómetros ou seja sessenta, ida e volta, demorou todo aquele dia.
Logo no seguinte começava de facto a tão almejada rendição com a entrega da metralhadora, montada em Jeep blindado.
A verificação do contador de quilómetros, deu que Onofre e colegas especialistas daquela unidade pesada, porque tinham tomado conta da viatura com zero quilómetros, pôde ver haverem percorrido naqueles terrenos dos Dembos cheios de irregularidades, cerca de oito mil quilómetros.
Até então apenas tinha pressentido três tiros, de Canhângulo.
A dissuasora arma era trocada por uma espingarda Mauser, para servir no que ia revelar-se na mais atribulada viagem, o regresso a Luanda com destino posterior a uma região livre de terrorismo.
Ainda no dia vinte de Março objectivando uma cerimónia do render, com certa dignidade, elementos do Esquadrão fizeram o acompanhamento da nova companhia a uma operação, de que resultou uma baixa rebelde e a apreensão da respectiva arma.
Já a quatro de Abril formou todo o Esquadrão, afim de proceder à formalidade militar de cumprir a praxe de prestar honra à Bandeira Pátria, descerrada de seguida.
No dia seguinte deixar-se-ia o Lifune Tari definitivamente.

(*) - Kopejka, vim a sabê-lo já em Lisboa, por um ex-colega de trabalho, ser filho único do célebre treinador do Sporting Clube de Portugal, Szabo.
Israelo-Húngaro, viera jogar no Clube de Futebol "Os Belenenses", devido ao nazismo.

Daniel Costa

2 comentários:

  1. Mais uma belíssima e interessante crônica, amigo Daniel. Obrigada.

    Carinhoso beijo.

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  2. Muito agradável ler estas passagens pela Gabela aonde vivi.Obrigada.

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