CASAL DO FOZ A TERCEIRA LENDA

Sem duvida, o Brasil é o País do futuro. Há apenas, de não se adiar esse futuro.

domingo, 13 de junho de 2010

AMOR NA GUERRA

ADEUS ATÉ AO MEU REGRESSO

Havendo responsáveis com formação própria em todos os aquartelamentos, no caso do esquadrão eventual 350 Onofre tinha substituído o nomeado, no que dizia respeito à manutenção do refeitório, assim como a outras necessidades inerentes, porém havia um sargento para a escrituração, por já ter protagonizado uma mobilização em Moçambique, onde exercera funções idênticas.
A repartição militar em Luanda, responsável por todos os impressos necessários, fornecia os mapas e outros documentos necessários para os movimentos de géneros alimentícios, de cuja administração era responsável. Uma empresa bastante complexa como se pode imaginar!...
Deste modo o superior mais directo no rancho, seria o dito sargento, que não merecendo a conotação de "fixe", foi contudo, um bom amigo de Onofre, já que este depressa adquiriu prestígio, o que servia o seu interesse como militar do quadro.
O sargento sempre aparecia de tarde batendo com uma varinha na perna a participar em sessões de petiscos.
Saida do palacio em jeito de festa

Em vários princípios de noite chegavam alguns amigos do citado, para os aperitivos de antes do jantar nas instalações dos géneros de alimentação .
Contavam-se entre eles quatro elementos, normalmente em dias diferentes, eram dois da polícia judiciária, que faziam parte de quadros instalados no Dundo, no serviço de investigação de possíveis movimentos clandestinos dedicados ao tráfego de pedras preciosas, um outro colono e um militar da milícia, todos em funções na Diamang.
As "tapas" eram constituídas normalmente por rodelas de chouriço, que chegava da manutenção militar enlatado, era de boa qualidade e constituíam um manjar acompanhadas do tal casqueiro (pão) fabricado no esquadrão e bom vinho verde fornecido pela organização diamantífera.
Aquele militar da classe dos sargentos, tornara-se um sério amigo do Onofre, por vezes conveniente, como uma mais valia nas relações públicas.
Em certa ocasião andava a remoer que num almoço, havia de ser servido arroz de pato. De facto uma ementa bastante apreciada, mas como conseguir aquele galináceo, pois os negros nada vendiam à tropa e a Companhia não os tinha para fornecer?
Por outro lado esta proibia aos colonos, embora com muito espaço junto das vivendas que lhe estavam atribuídas, a criação de qualquer ave de capoeira.
A ideia, o sonho parecia inexequível.
Certo dia o sargento apareceu com o problema resolvido, o colono habitual dos petiscos, na entrada da noite, da sua improvisada e clandestina capoeira, de parceria com outros colegas, arranjaria a quantidade de patos necessária para um almoço farto de todo o rancho.
Não havia dinheiros em jogo o que facilitava tudo. As latas de chouriço, com a tara de cinco quilos, fornecidas pela manutenção militar, eram ali um bem tão precioso que serviriam de boa moeda de troca.
Foi aí que algumas dúvidas do Onofre começaram a esclarecer-se, a resposta ao problema do fruto proibido, era a de que os galináceos tinham a capacidade de armazenar nas goelas pedras preciosas, tornando-se um meio eficaz de tráfico.
Como se pôde verificar a proibição era letra morta!
Por esta altura, não tendo chegado ainda a televisão às guerras de África, eram debitadas para microfones da rádio, por militares formados em fila indiana para os sacramentais cumprimentos de Natal, dedicados à família, namoradas, Madrinhas de Guerra e amigos, com o obrigatório, "adeus até ao meu regresso".
Chegara o tempo de os militares se inscreveram para a visita a uma rádio da Lunda afim de gravarem a sua mensagem, que depois a Emissora Nacional difundia.
Pelo segundo ano da estatal obrigação de passar pela guerrilha, Onofre ignorou a prerrogativa, porque a achou sempre sem sentido.

Daniel Costa

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