CASAL DO FOZ A TERCEIRA LENDA

Sem duvida, o Brasil é o País do futuro. Há apenas, de não se adiar esse futuro.

sábado, 5 de junho de 2010

AMOR NA GUERRA

ABASTECIMENTO PELA DIAMANG

Não se tratava de um acaso, já que em 1963 toda a vasta região da Lunda contava com muitos acantonamentos militares, de todas as Armas, inclusive artilharia pesada.
Primeiro, porque será das regiões de África com o subsolo mais rico, sobretudo em diamantes, depois por fazer fronteira com um país recentemente descolonizado, o Congo já a viver a sua independência, com as nefastas consequências que se conheciam.
Para quem não tivesse alguma bagagem cultural, para encaixar estes factores ou que não tivesse para se ralar com pormenores, estes factos podiam passar à marginalidade.
Na humanidade da sua pequenez, Onofre vivia intensamente, com prazer a oportunidade de ir evoluindo, enquanto mobilizado, na certeza de executar o melhor possível as tarefas que lhe destinavam no espaço temporal.
Definitivamente constituída a nova equipa de manutenção, o dia vinte e seis de Agosto foi de muito trabalho, já que urgia arrumar todos os géneros trazidos de Henrique de Carvalho.
Sobrou tempo, para assistir à grande festa indígena que, anualmente, se processava no Dundo, com o beneplácito da Companhia Diamantífera Diamang no seu respeito pelas tradições lúdicas locais.
Uma festa muito interessante, onde eram atribuídas medalhas e prémios monetários a nativos, que comemoravam vinte anos de serviço, após o que eram rodeados jubilosamente pelas suas várias esposas, sendo que na etnia quioca a bigamia era tradicional na natureza humana.
Da assistência saiam as suas mulheres para festejar o premiado marido

A importância da riqueza de cada homem podia ser aquilatada pelo número de mulheres que possuía, sendo cada uma sua trabalhadora, porque no seio daquele povo o labor do campo era mister de mulheres.
A festa continuou no mesmo recinto da cidade, com banda musical apenas de elementos nativos, com interpretações de música moderna a animar a concentração.
No prosseguimento da novas funções, o dia seguinte, começou pela ida de Onofre ao grande armazém da carne, que servia a Diamang, Companhia a que o agrupamento estava agregado, para se abastecer da maioria dos alimentos, como carnes, peixes, ovos, batatas, vinhos e outros.
Na zona qualquer estrutura colonial só podia depender daquela fonte, com vários centros.
O cargo de encarregado do depósito de géneros, fazia o mesmo ter necessidade de idas diárias ao Dundo, por vezes também à periférica Cacanda, onde se situava o aviário.
No dia vinte e sete de Agosto, houve a ida à noite, ao único cinema existente na cidade, a funcionar apenas um dia por semana, às quartas-feiras.
Passou o filme "Duas Mulheres", com Sofia Loren.
No dia seguinte, a primeira quinta-feira que o Onofre enfrentou o único, portanto obrigatório, armazém de géneros alimentícios da região dominada pela toda poderosa Companhia dos Diamantes, até em relação ao corpo militar, que em nada devederia depender do poder civil.
Tudo acabou por andar bem, pois já havia sido entregue a respectiva e necessária requisição dos bens a adquirir, tirada do livro também ali fornecido, que ficara na já posse do mesmo responsável militar.
O chefe do poderoso armazém, que passara a tratar o interlocutor, pelo nome próprio, em conversa aproveitou para desenvolver o seguinte diálogo:
- "Consta ser no seu esquadrão que se fabrica o melhor pão de toda a Lunda!... "
O Onofre nunca atentara naquele grande privilégio, banal por recorrência. De facto os padeiros tinham ido do Esquadrão 297, pelo que sem se dar por isso a qualidade era inalterável.
Viu uma oportunidade de obter favorecimento. De imediato a explorou, oferecendo àquele chefe a possibilidade de lhe ser fornecido o pão diariamente.
Havia um óbice, visto apenas pelo interessado, era o ter de ser um dos criados negros a fazer a recolha.
O assunto foi resolvido com facilidade, com um cartão assinado pelo militar, que o responsabilizava, pois no esquadrão não havia problemas de racismo como impedimentos.
A partir daí os padeiros, aquartelados e a trabalhar no forno, no Dundo passaram a contar com um cliente especial e o encarregado obteve a mais valia de tratamento diferenciado. As políticas da Companhia passaram a ser menos fechadas para o militar.
O novo cargo exigia muita dedicação, atenuada por ajudantes variados, para o muito trabalho a efectuar.
Para efeitos de abastecimento de produtos comestíveis, oriundos da manutenção militar, havia dois pelotões adidos ao esquadrão a operar nas redondezas, que semanalmente, iam abastecer-se naquele depósito.

Daniel Costa

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