CASAL DO FOZ A TERCEIRA LENDA

Sem duvida, o Brasil é o País do futuro. Há apenas, de não se adiar esse futuro.

sábado, 12 de junho de 2010

AMOR NA GUERRA

PRAÇAS HERÓIS

Outro assunto de prender a atenção, foi o de uma praça distinguida com uma condecoração. Foi-lhe atribuída por valor demonstrado numa operação militar, ainda na zona de intervenção a "Cruz de Ferro".
Chegara a Portugália a convocação, para se apresentar em Luanda a fazer parte de uma parada, onde seriam entregues as variadas condecorações por valor militar patenteado.
Aconteceu algo inexplicável, mesmo na época, o militar recebera a "Cruz de Ferro", mas voltara à base da Lunda em estado de desnutrição a exigir tratamento médico.
Onofre, por natureza era pensador e reflectia muito sobre estas incidências, que pareceriam apenas de pormenor. Podiam estar certas, mas um herói?
Ainda que soldado raso, não destoaria se lhe tivessem disponibilizado um avião, para o transportar de ida e volta ao esquadrão.
No caso a capital de Angola, ficava no mínimo a dois dias de viagem terrestre em camioneta de caixa aberta.
Como a mesma teria sido feita, de aquartelamento em agrupamento militar, com a sujeição aos transportes destes e sendo o herói tímido por natureza, para se abeirar dos rancheiros respectivos, ficara com razão de maldizer o acto heróico que, motivou a inglória honra da condecoração.
Ainda em Novembro, no dia vinte e nove, à tarde na companhia do Soeiro, dedicou-o a uma visita, que há muito se impunha, ao Museu Etnográfico do Dundo, um dos mais importantes, do género em todo o continente africano.
Fachada do museu da cidade do Dundo

A visita, além de muito agradável foi surpreendente, pela variedade de objectos expostos e pela revelação que encerra da cultura da grande região da Lunda.
A visita mereceu uma atenção detalhada, da parte que estuda os minerais da zona, confirmando o que se dizia: Todas as pedrinhas com que se tropeçava serem diamantes, mesmo se alguns não tivessem valor de mercado, visto que havia qualificação para todos, mesmo os que se esfregassem nas mãos e se desfizessem em pó.
Foi possível verificar inúmeras "pedras" identificadas, das insignificantes às de grande pureza. Todas as de que aquele território era fértil, o que afinal fazia com que a tropa estivesse já presente em força, para vigiar todos os movimentos porventura hostis a uma produção altamente sofisticada.
Depois chegava-se a uma parte, onde era exposta então, toda a cultura dos quiocos, que habitavam a vastíssima região. Essa de tão ancestral, era de fazer pasmar qualquer europeu. O exemplo maior, será uma mobília de sala executada em madeiras exóticas, em que todas as peças que a compunham eram trabalhadas manualmente,
representando na integra, explícitas cenas eróticas.
                                           
Museu do Dundo: Pormenor de cadeira. Trabalho quioco

A constatação, pelo ineditismo era agradavelmente chocante.
De facto, estava-se num país diferente do que se conhecia no cantinho europeu!
Onofre acha por bem não deixar de mencionar o caso recorrente, de numa das sortidas diárias ao Dundo, motivadas pelo serviço do rancho, de conluio com o motorista da viatura, se ter deslocado também ao aquartelamento da Bateria que, estacionava perto do rio Luachimo.
Nesse dia trinta e um de Novembro, a saltada à artilharia era destinada a compras particulares na cantina local, por esta ser melhor apetrechada. Porém houve pouca sorte, deu-se uma avaria no Jeep e praças velhas como as presentes, empurraram a viatura até ao sítio onde a passagem podia ser justificada. Assim o carro, durante cerca de cinco quilómetros, usufruiu de tracção manual.
Nas instalações do Tari Lifune, no chamado mato, com propriedade por ser zona de intervenção militar um "divertimento da malta", como alguém dizia, a saga de surripiar quicos uns aos outros foi um divertimento de tempos livres, como seria para os miúdos jogar o berlinde ou ao pião no recreio.
Fora dessa área existiam outras ocupações bem mais atraentes. Foi assim mesmo que alguém atrevido ousou subtrair o do Capitão Alves Ribeiro. Pensou-se na pena aplicável, mas aconteceu o facto inesperado de o ilustre comandante militar, ter rido da façanha e prestes a deslocar-se à metrópole no gozo das suas férias logo adquiriu novo exemplar.
Aconteceu a mesma cena, no aquartelamento do esquadrão eventual na Portugália; uma praça, um homem do Alentejo, ousou o mesmo com o Capitão Ferrand de Almeida. Este muito menos dado a rigores de comando, ainda assim não teve qualquer contemplação e aplicou a pena mais pesada da sua competência:
Dez dias de prisão!...

Daniel Costa


2 comentários:

  1. São documentários estes textos, muito bom!
    um abraço, otima semana

    ResponderEliminar
  2. Como antigo funcionário dessa jóia museológica e do Laboratório de Investigação Biológica anexo (1964-1069) fico sempre feliz por se falar com saudade e verdade duma Casa Sagrada para Quiôcos, Lundas, Luenas e Camatapas, os povos da Grande Lunda. Um abraço do
    Quinto Barcelos - Porto

    ResponderEliminar