CASAL DO FOZ A TERCEIRA LENDA

Sem duvida, o Brasil é o País do futuro. Há apenas, de não se adiar esse futuro.

domingo, 28 de março de 2010

AMOR NA GUERRA

LIFUNE - TARI

Depois de se tomar conhecimento da devastadora acção de puro terrorismo, não só de grupos subversivos, como do então famigerado pelotão comandado pelo Alferes Robles, com a primeira resposta militar, dando consistência à máxima: "ao terrorismo só se pode responder com terrorismo", acabou por ser toda a zona vandalizada, começando na vasta Região dos Dembos, a norte de Luanda.
Ainda cá no "Puto", como a tropa por influências locais, se habituara a designar o Portugal da Metrópole, a 10 de Agosto de 1961, o mais forte bastião terrorista da altura, a povoação de Nambuangongo foi retomada pelo Batalhão 96 comandado pelo lendário Tenente-Coronel Armando Maçanita.
Uma verdadeira epopeia, relatada pelo repórter da Emissora Nacional, Ferreira da Costa, deixando a Região temporariamente mais calma.
Era essa zona a destinada ao grande Esquadrão, que veio a substituir na fazenda Lifune - Tari uma das companhias pertencentes ao glorioso 96, que ali se fixara, depois de recuperado Nambuangongo, ao então grupo de guerrilha da UPA, que tornara assim a zona mais pacificada.
Recorde-se que, o pessoal comandado pelo Tenente-Coronel Maçanita, atingiu o grande feito, com a velha espingarda Mauser, visto ser a arma que o exército possuía.
Afinal o opositor, além dos "canhângulos" (espingardas improvisadas com canos rudimentares e munições feitas de vários materiais, até com pregos velhos) e catanas, utensílios cuja utilidade, além de outras tarefas do campo locais, era a de ceifar o capim.
Picada  da entrada na fazenda Tari

Aparecendo só aqui e além, alguma espingarda, naturalmente em mãos de superiores, a dirigir a rebelião.
A Região dos Dembos, durante cerca de um ano ficou mais calma, especialmente na parte onde estava sedeada a tropa sob o comando do Batalhão em Muxaluando.
Dali, como já se viu, partiu a sortida final para a retomada da célebre povoação de Nambuangongo
Na larga extensão que servira de Base ao grande feito guerreiro, talvez um dos maiores travados por portugueses em toda a África no século XX, passaram a dominar os militares pertencentes ao Batalhão 350, comandado pelo Tenente-Coronel Costa Gomes. Irmão do que tendo o mesmo apelido, atingiu a Presidência da República e o alto posto militar de Marechal.
Durante cerca de um ano, salvo algumas escaramuças, conheceu-se aquilo a que poderia chamar-se a segunda fase da guerra de Angola.
Por exemplo, em períodos mensais, havia um ataque de três ou quatro tiros, num verdadeiro "bate e foge", a uma das muitas colunas militares auto-transportadas, por aqueles caminhos, roças e muceques destruídos e desabitados, procurando manter a soberania e a paz.
Como não tinha havido troca de armas, visto todo o Batalhão ir já provido, com espingardas novas modernas, que por deficiente fabrico, em breve foram substituídas por G3, cuja maior eficiência era inegável.
Logo no dia sete iniciou-se o serviço destinado ao Esquadrão, que tinha a comandá-lo o Capitão João Ramiro Alves Ribeiro, um homem que já ia dando provas de talento militar, não só pela dignidade do posto, como pelos inegáveis dotes de comando.
No entanto só no dia oito Onofre e os seus camaradas, mais próximos, Esquim Pinto, Teodoro e o motorista Gastão, no Jeep que lhes estava destinado, iniciaram verdadeiramente os serviços de escoltas auto-transportadas, trabalho que lhes fora atribuído, pela sua própria especialização.

Ponte sobre o rio Lifune, por não haver tempo da sua destruição total, afim de ser cortada a passagem das tropas que avançavam para a fomada de Nambuangogo, foram apenas parte das guadas.

Começou com a amenidade de um pequeno itinerário, cerca de quinze quilómetros, o que dista do Tari a Vista Alegre, numa coluna destinada a transportar pão, para acompanhar as refeições de um pelotão, uma fracção do Esquadrão, que destacada tinha a missão de assegurara presença no local, que serviu de partida na épica tomada de Nambuangongo.
A partir desta data, entre as muitas escoltas, outros serviços no aquartelamento, muitas conversas, a escrita de cartas à família e amigos e às Madrinhas de Guerra, Onofre nunca deixara de estar activo.
Evidentemente, viviam-se a partir daquele local, inúmeros episódios, uns menos alegres e outros de puro divertimento.
Logo a dezasseis de Março, depois de um dia trabalhoso, houve ordem de ir um pelotão a Vista Alegre reforçar o ali residente, pois havia-se sentido algo estranho. Depois de muito se observar, chegou-se á conclusão de ser nula presença de rebeldia.
Como o alarme não passara de rebate falso, já madrugada o reforço voltou à base sem novidade.
Entretanto, começaram as batidas, que eram efectuadas por um pelotão de militares, levando sempre por escolta um ou vários Unimogs, transportando tropas. Acompanhava de um Jeep equipado com metralhadora pesada Breda e o respectivo grupo.
Muitas vezes calhava à esquadra do Onofre, tanto mais, que quase todos os dias havia os mais variados serviços exteriores.
Considera-se importante mencionar o Arsénio, também especializado em armas pesadas, na vertente morteiros, na maior parte das vezes também ao serviço de escoltas.
Portanto só andava em corredores de caminhos compostos pelas chamadas picadas.
Porém, tomou a opção de oferecer-se voluntariamente, para se movimentar na qualidade de atirador.
Não havendo subjacente prejuízo, era muito bem aceite a ideia. Acontecendo algumas vezes, nas acções chamadas batidas, haver apreensão e recolha de diverso material, à mistura com Angolares.
Depois de tudo passar pelo Comandante, o dinheiro voltava sempre a quem o entregara.
O recolhido pelo Arsénio, ia logo direito a umas "Cucas", para os amigos, onde nunca podia faltar o Onofre!

Daniel Costa


1 comentário:

  1. Daniel, mais um relato comovente da "Guerra", passagens que marcaram todos aqueles que lutaram pelo equilibrio de uma nação! As fotografias brilham neste texto interessante
    Feliz Pascoa
    Beijo

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